Pedro Geiger, um dos principais nomes da geografia brasileira, completa 100 anos

Por G1 e Uol
27/03/2023
Pedro Geiger, um dos principais nomes da geografia brasileira, completa 100 anos e continua em atividade. Observador das grandes transformações do país no último século, o carioca influenciou pesquisas em várias áreas.
“Visitei todas as regiões brasileiras, conheço quase todas as cidades brasileiras e tenho uma visão muito ampla do território brasileiro”, conta o geógrafo.
Ele foi um dos primeiros geógrafos a fazer parte dos quadros do IBGE, onde ingressou em 1942. Aos 20 anos, começou a rodar o Brasil com a missão de levantar informações sobre lugares até então pouco conhecidos.
Como o Jalapáo, no Tocantins, onde Geiger criou uma espécie de "hierarquia urbana", classificando os municípios da região, a partir da importância dos grupos sociais que organizavam a vida, a produção e o comércio.
A obra de Geiger é importante e inovadora porque também traz para a paisagem o estudo do homem e das suas relações. Uma geografia humana.
“A grande dica que eu descobri foi classificar as áreas pela classe que domina aquela area, essa que é a generalidade minha. Se é classe industrial, se a classe agrária, se a classe dos pastores. A minha contribuição principal eu acho que é essa”, explica.
Na década de 1940, já no fim do ciclo do café, Geiger publicou um estudo importante sobre o estado de São Paulo, em que aponta o surgimento da primeira zona industrial do Brasil, num triângulo formado pela capital, Campinas e Sorocaba.
A divisão oficial do Brasil em cinco regiões foi criada, em 1969, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mas, antes disso, em 1967, o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger já havia proposto uma outra divisão regional do país, em três regiões geoeconômicas ou complexos regionais. Ela se baseia no processo histórico de formação do território brasileiro, levando em conta, especialmente, os efeitos da industrialização. Dessa forma, ela busca refletir a realidade do país e compreender seus mais profundos contrastes. De acordo com Geiger, são três as regiões geoeconômicas: Amazônia, Centro-Sul e Nordeste. Essa organização regional favorece a compreensão das relaçõessociais e políticas do país, pois associa os espaços de acordo com suas semelhanças econômicas, históricas e culturais.
“Um grande intelectual na produção de conhecimento sobre a realidade brasileira e com aspectos singulares como esse de ver a realidade histórica se desenrolando no território. Eu vejo como um intelectual que nunca se desconectou nem da sociedade em que vivia, e nem das pessoas que estavam vivendo na sociedade naquele momento”, diz Sérgio Besserman.
Além de influenciar gerações de geógrafos, economistas, historiadores, o geógrafo também inspirou artistas. No ateliê da esposa, Anna Bella Geiger, a geografia é uma presença inegável.
“Deu samba. Deu alguma coisa que é geopolítica, que um cara, um crítico de arte chileno disse que no meu caso é uma geopoética”, explica Anna.
Aos 100 anos, este pensador incansável, aventureiro de tantos rincões, diz que ainda vê o Brasil com o mesmo olhar da juventude.
“É um olhar de esperança, olhar de esperança de desenvolvimento. Uma das coisas que eu falei que eu achei muito interessante foi dizer que assim como há o horizonte geográfico, há um horizonte da história. A história também tem horizontes. Você vai passando de épocas para novas épocas. São horizontes”, finaliza Geiger.